Que “Um Estranho no Ninho” é um clássico (vencedor de cinco Oscar, incluindo melhor ator para Jack Nicholson e melhor filme) do cinema, todos sabem, porém, como podemos aplicar um olhar sociológico para essa obra?
Sobre a sociedade disciplinar, na perspectiva de Michel Foucault (1926-1984), é possível perceber que um dos grandes problemas da disciplina como instrumento de poder é o controle dos indivíduos, tornando a sociedade submissa e “dócil”. Foucault chama esse controle de “docilização dos corpos”. Vale destacar a palavra “adestrar”, utilizada pelo autor, palavra que usamos hoje especificamente para animais de estimação, o que nos leva a refletir como a disciplina “adestra” um indivíduo, sem sua própria vontade.
Randle McMurphy é um “outsider”, um estranho no ninho devido ao fato de nunca se adequar à disciplina. Na prisão, negava o trabalho forçado e, após ser mandado para um sanatório, rejeita a rotina também daquele lugar. “Onde há poder, há resistência”, diz Foucault, e McMurphy é um exemplo dessa resistência. A resposta de uma instituição disciplinar para aquele que não se encaixa em seu modo de controle é sempre a punição, seja ela física ou psicológica. No caso do filme as formas de punição são das duas maneiras.
Jesus Cristo, Galileu Galilei, Van Gogh, são alguns entre tantos que criaram uma resistência contra o poder, considerados loucos, insanos e dementes, cada um em sua época. Na obra “História da Loucura”, Foucault mostra que o “louco” passou por vários formatos e julgamentos durante a história, até chegarmos ao século XVIII, quando esse “louco” passa a ser objeto de estudo da Medicina: deixa de ser criminoso e passa a ser um doente. O que Foucault demonstra é que a ideia de loucura não é natural, mas sim cultural.
Com isso, fica fácil lembrar de Randle McMurphy. Ele é um desobediente, não um doente. A instituição sabe disso, ele sabe disso. Mas como toda forma de resistência é punida, ele torna-se doente, com tratamentos e medicalizações como punição.
Hoje, por exemplo, a instituição escolar busca a medicalização da criança que comete o “crime” de correr, pular e brincar.
A figura do “Panóptico”, apresentada pelo filósofo Jeremy Bentham (1748-1832), busca o auto-controle dos indivíduos através da vigilância. Inicialmente voltada para as prisões, hoje a ideia de panóptico pode ser percebida em vários níveis (“micropoder”) da sociedade: da sala da minha casa às ruas da cidade. Em “Um Estranho no Ninho”, o panóptico é notável na figura da enfermeira-chefe, na equipe de enfermeiros e na “salinha de controle”.
Panóptico = “funcionamento automático do poder”.
Hoje, esse funcionamento automático do poder está presente nas plaquinhas “sorria, você está sendo filmado” bem como nas praças públicas, shopping center, hospitais, escolas, igrejas, lojas, rodoviárias, aeroportos, pedágios. Outros sistemas de vigilância também podem ser associados ao conceito de panóptico: cartão de crédito, sistemas operacionais de celulares (IOS, Android), e por que não, o próprio Facebook.